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Sexta-Feira, 22 de Fevereiro de 2019, 10h:28
Quatro desafios para ampliar a exportação
Exportações do leite brasileiro
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Quatro desafios para ampliar a exportação

Em 2016, as exportações globais de produtos derivados do leite somaram US$ 65,3 bilhões. Em razão de sua importância na segurança alimentar dos países, o comércio internacional de lácteos envolve apenas uma pequena parcela da produção mundial de leite e é realizado, em sua maior parte, sob a forma de queijos e leite em pó (integral e desnatado). Como os queijos costumam ter maior valor agregado e grande variação de preços em virtude do tipo, da origem e da marca, o leite em pó é a principal commodity láctea.
A demanda por leite e produtos derivados deve continuar em crescimento nos próximos anos, graças ao incremento populacional e da renda mundial, bem como a mudanças no consumo alimentar internacional. Até 2027, é esperado um aumento no consumo de lácteos de 2% a.a. — sendo que, para o leite em pó integral e o desnatado, esse crescimento deve chegar a 2,3% a.a. e 2,2% a.a., respectivamente.
Para aproveitar esse crescimento na demanda, que deve se refletir no aumento do comércio internacional, os países que produzirem a preços mais competitivos terão vantagem na disputa por participação nas exportações globais.
Atualmente, Nova Zelândia, Alemanha, Holanda, França e EUA são os principais países exportadores de produtos lácteos. Já em relação às importações, China, México e Argélia lideraram, nessa ordem, a demanda pelo leite em pó.
O Brasil na produção de lácteos: mercado doméstico x internacional
Em 2017, o valor bruto da produção de leite no Brasil somou R$ 30,1 bilhões, e a indústria de laticínios faturou R$ 70,2 bilhões. A produção no campo envolveu, nesse ano, 1,17 milhão de estabelecimentos produtores e cerca de 3,5 milhões de pessoas.
Embora existam divergências sobre o tamanho da produção informal e, consequentemente, sobre quanto seria o consumo real de leite no Brasil, há um consenso no setor: para a produção doméstica continuar a crescer, é necessário aumentar, de forma estrutural, as exportações. Entretanto, ao contrário dos dois maiores produtores mundiais, União Europeia e EUA, o Brasil não é um dos grandes exportadores de lácteos e, em termos líquidos, é historicamente deficitário.
As exportações brasileiras foram de US$ 102 milhões em 2017, representando, em equivalente-leite, 141 milhões de litros (ou cerca de 0,6% da produção nacional inspecionada). Os principais produtos embarcados foram creme de leite e leite condensado, com 47% do valor, e leite em pó, com 14%. Já as importações de produtos lácteos atingiram quase 1,3 bilhão de litros em equivalente-leite no mesmo ano, ou seja, quase 5,3% da produção nacional inspecionada. Os lácteos que o Brasil mais importou, nesse ano, em equivalente-leite, foram o leite em pó (72,8% do total de importações) e os queijos (24,4%).
Um dos motivos para esse persistente déficit brasileiro é que tanto a escala de produção quanto a produtividade e a qualidade médias são baixas, faltando conhecimento e recursos a muitos produtores para incorporar as melhores técnicas de produção.
Outra questão é a diferença significativa existente entre os preços praticados no mercado doméstico e no mercado internacional, que desestimula as exportações brasileiras e estimula as importações, sobretudo dos países do Mercosul.
Os principais gargalos para exportação do leite brasileiro
Com o objetivo de identificar os principais gargalos à participação do Brasil como exportador para o mercado internacional, os autores do estudo Desafios para a exportação brasileira de leite, publicado no BNDES Setorial 48, realizaram entrevistas com 23 especialistas do setor, incluindo produtores, criadores, executivos das indústrias de processamento, insumos e equipamentos e lideranças que representam instituições ligadas à cadeia do leite. A partir das respostas, eles conseguiram identificar quatro fatores principais que afetam a competitividade da cadeia produtiva, descritos a seguir.
1. Preços poucos competitivos
A dificuldade de equiparar o preço dos produtos lácteos produzidos no Brasil com os preços praticados no mercado internacional foi mencionada pelos entrevistados como fator decisivo para a falta de competitividade da cadeia láctea nacional. Dentre os aspectos apontados que impactam a formulação de preços, destacam-se a baixa produtividade, a falta de escala produtiva e a ineficiência na produção e no processamento. Além disso, foram citados: infraestrutura, logística, questões tributárias e crédito. Todos esses fatores contribuem para que o Brasil tenha maiores custos relativos se comparado aos países exportadores.
2. Qualidade
A qualidade do leite é fator decisivo no que diz respeito à competitividade, em função de barreiras não tarifárias e, principalmente, no que se refere ao rendimento industrial da matéria-prima. Sobre esse aspecto, reconhece-se que há muito a avançar. A qualidade do leite precisa ser melhorada e adequada a parâmetros internacionais, sendo necessário estabelecer metas de qualidade e políticas claras de incentivo via preço, ou seja: adoção de política de pagamento por qualidade.
3. Políticas públicas
Políticas públicas estruturadas devem estimular a produção e a competitividade. Para tanto, o governo precisa gradativamente abandonar a perspectiva de políticas de proteção, que blindam o produtor e a indústria e tornam mais lento o progresso técnico. Essas políticas reativas, de proteção, com pouco foco no mercado e na agregação de valor e motivadas pela preocupação com a exclusão dos produtores ineficientes, devem ser substituídas por políticas que apoiem esses produtores a se modernizar e profissionalizar e a tornar o negócio rentável.
4. Coordenação da cadeia produtiva
A cadeia produtiva do leite carece de ações coordenadas dos agentes que a compõem e de ações pré-competitivas exercitadas de modo contínuo, visando minimizar riscos e incertezas. A consolidação no cenário internacional de lácteos passa necessariamente por coordenação e integração entre os diversos elos da cadeia — produtores, fornecedores de insumos e serviços, logística de captação e distribuição, indústria de processamento, atacadistas e varejistas —, de forma a superar as barreiras desse mercado.
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Matéria publicada no BNDES Setorial 48, dos autores Artur Milanez, Diego Guimarães, Guilherme Maia, Paulo Martins, Gustavo Simão Lima, Samuel Oliveira, Christiano Nascif e Vanessa de Freitas

 

 

 

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